Vermelho é amor, perigo, pare, sangue, morte, raiva.
Engraçado né? Sempre falo de como as palavras constroem o mundo e o jeito que vivemos nele. E outro dia fiquei pensando nisso: nessa correlação entre amor, perigo e morte que nossa cultura promove.
Uma vez eu soube que na cromoterapia, o verde é a verdadeira cor do amor. Porque o vermelho é excitação, desejo, motivação. E o verde é segurança, esperança, calmaria, liberdade. O verde é a cor do siga em frente, é a cor do chakra do coração. O vermelho, a cor do chakra sexual.
Assim, tendemos a confundir o tesão, energia sexual, com amor. É claro que as duas coisas são muito ligadas. Mas amor não é só sexo como nos sugere a cor vermelha. E nem deve ser perigo: aquilo que causa dor, que é um risco. O sexo sim, é sempre um risco, uma brincadeira com a dor que gera prazer, um jogo com a falta que gera a completude do gozo. Mas o amor deveria ser calmaria, deveria ser porto seguro e deveria ser esperança. Esperança de qualquer coisa, que não fosse a urgência do vermelho.
Enquanto o vermelho urge, o amor espera. O verde amadurece. O vermelho, apodrece, tem vida curta. Porque tesão tem prazo de validade curtíssimo: existe para ser usado, gasto, escravo do gozo: uma vez gozado, desaparece. E precisa ser renovado, transformado de novo em algo que falta pra mobilizar novamente o sexo. O que já se tem, não excita. E o sexo precisa da falta.
Então é assim: amamos em vermelho. E somos raivosos, urgentes, nos prendemos ao outro com medo do perigo que é o próprio amor. Matamos, brigamos, rompemos amizade, porque o amor é vermelho. O crime passional é vermelho. E precisamos amar em verde. Compreender mais, se entregar mais ao que demora, esperar junto. A filosofia tântrica propõe, inclusive, um sexo verde: devagarinho, sem pressa, com entrega absoluta. O amor deve ser mantra no meio dessa barulheira que é nossa vida. E o mantra funciona justamente porque no mentalizar o que se quer, construímos o que queremos (as palavras constroem o mundo!).
Então é assim: amemos em verde. Mas até lá, "cuidado meu bem, há perigo na esquina".
E um deles é o amor.