quarta-feira, 29 de outubro de 2014

.carvão sobre tela


Era setembro e chovia já.

A gente acordava e resolvia não sair da cama
                                                            [Ou saía e ia pro sofá.

O céu cinza matizando a vida: A epifania é o amor.

O cinema era nós, projetadas em frente a TV.



Estação da luz


Nos fotografaram
                            Watch out!
Estamos no jornal

Cobriram nosso encontro casual



terça-feira, 15 de julho de 2014

Confissões feministas para pessoas radicais ou radicais feministas para pessoas confessionais


Voltei a tomar pílula. Faço depilação com frequência. Até à axila. Gosto de homens.

Já usei loiro. Faço a unha também. Gosto mais de mim com esmalte.

Tudo isso são coisas tão pequenas perto de tudo mais que eu sou/faço/amo/dou.

Além disso, acho que meus amigos não são responsáveis, individualmente, pela opressão coletiva das mulheres. Muito menos as mulheres.

Acho que meus amigos, individualmente, perdem muito da vida por causa do machismo. Que nem eu. Que nem todo mundo.

Gosto dos homens. E das mulheres. Mas não gosto de qualquer pessoa. Gosto de gente inteligente.

Gosto mais ainda da liberdade.




quinta-feira, 3 de julho de 2014

Solidez líquida ou Megabytes de amor

Cada vez que eu me despedia de você era o fim dos tempos. Pára tudo, stop salgadinho, meu mundo caiu. Mas já já eu começava a vida de novo...

Cada vez que eu me despedia de você era um vazio imenso no meu mundo de palavras, frio na barriga e sexo virtual. Eu era fiel.

Cada vez que eu me despedia de você queria que o dia, a noite, o que quer que fosse, passasse logo, até chegar a hora de ver a janelinha do msn piscando de novo, assim mesmo, bem clichê.

Um dia a gente trocou as cores das nossas letras. Foi nosso casamento. Eu fiquei verde, você vermelho.

Cada vez que eu me despedia de você era por menos tempo...

Cada vez mais tecnologia, skype, facebook, whatsapp, carrego você na bolsa.

Eu nunca mais me despedi de você.

Nesse lance eterno, real/virtual, as letras nem tem mais cores, mas a gente tem um monte de milhões de megabytes de amor trocado pela rede.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Dia dos Namorados

_ E o namorado?
_ "O" não. São vários.

Essa foi a maneira que eu encontrei de desconstruir um pouquinho o dado como certo de que ou eu tinha um namoradO ou estava procurando por um. 

Queria ser completamente lésbica para responder "namorada, você quis dizer?". Mas não sou. E daí a pergunta tem um tanto de verdade. Não estou namorando, nem procurando por um namorado, mas sim, eu gosto de homens. Signifca que não gosto de mulheres? Não. Raciocínio lógico, apenas.

Eu poderia ter fingido, dado a resposta "lésbica", numa ação político-ética. Mas não. Porque era uma conversa sincera. 

Tão sincera que ela me contou que também tinha alguns romances por aí. Mas que a coisa não tá fácil pra ninguém. E que entende esse tanto de mulher virando sapatão: tem até uma amiga dela que deixou o marido com dois filhos, recentemente. Porque a mulher é mais delicada, carinhosa... e os homens andam tão grosseiros e estúpidos. 

Tão sincera que não me inflamei com o monte de "dado como certo" que ela ia dizendo. Na minha vida, encontrei mesmo mulheres mais carinhosas do que os homens. Claro, elas como eu, devem ter sido ensinadas desde cedo a cercar alguém de tantos cuidados a ponto de quase adivinhar o que a outra pessoa quer. É daí que a gente quase se diviniza e fica parecendo que não dá pra viver sem mulher e que a mulher é mais delicada e carinhosa que o homem, naturalmente. 

Tão sincera que ela me disse, concluindo, que a gente tinha que ser feliz como quiséssemos. Ao que eu respondi que concordava.