quinta-feira, 28 de abril de 2011

Gosto é uma coisa... afeição é outra!

Explico. Muitas vezes me posiciono veementemente contra algumas questões estéticas ou políticas; para, logo depois, estar sentada numa mesa de bar com um representante legítimo do que acabei de criticar. Isso significa: eu me posiciono contra as coisas e não contra as pessoas.

Filosoficamente analisando, isso pode parecer ilógico, afinal são as pessoas que fazem as coisas e nesse sentido pessoa e coisa se confundiriam. Mas, analisando mais filosoficamente ainda, não está o ser humano, o tempo todo, tentando encontrar maneiras de organizar esse mundo louco que é a vida, a moral, a ética, a estética, os amores? Pois bem! E o meu jeito de organizar isso tudo é: as coisas são as coisas; as pessoas são as pessoas.

Outro dia, numa balada, começou a tocar Jorge Ben. Fiquei meio irritadinha com a escolha e falei pro Danislau: "coisa chata é música felizinha demais, né?!" No mesmo instante, vem a Moema, me abraça, cantando e me tirando pra dançar. Eu, começo a cantar e a dançar com ela. Danis foi implacável: "Falsa!!!"

Não, Dan-dan, não fui falsa. É que uma coisa é eu não gostar de Jorge Ben. Outra coisa, muito diferente, é eu deixar de dançar com uma pessoa de quem gosto.

Outro exemplo: destesto Teatro Mágico. Minha prima ama. E eis que em visita à minha querida Franquinha (Franca - SP) sou presenteada com um ingresso para o show: "olha que sorte!! tem show do Teatro Mágico bem no fim de semana q vc vem". O que acham que eu fiz? Dancei, bebi, curti e até arrisquei uns refrõezinhos de "arroz e feijão" em coro com ela, lá pelas tantas da noite!

Mesma coisa com o Zóy: as vezes ele entra numas bandas aí que não curto. E daí? Vou em todo show que ele convida porque meu amor pelo Zóy acima de tudo!

Por isso é assim: meu gosto estético e minhas preferências políticas são uma coisa. Meus amores, são outra. Quando tudo isso coincide, dá casamento. Quando não, mesmo assim podemos ter uma transa maravilhosa!

sábado, 9 de abril de 2011

Salomé

Não, eu não nasci assim. Assim eu fui me tornando no botar dos ovos.

É impressionante o poder da vida de nos transformar em algos que nem imaginamos... Nos relacionando com as pessoas ganhamos nomes, características e personalidades que nunca pensamos em ser.

O fato é que de repente pra mim não havia mais cuidado, não havia respeito, como algo temido e odiado, eu não mais me sentia uma pessoa. Como se minha existência agredisse as pessoas, sem perceber como e porque, eu fui sendo colocada num lugar estranho e solitário, onde eu pagava por erros que eu nunca soube quais eram.

Mas eu não me conformei com o desdém assim fácil. Eu insisti em pelo menos entender, se não o porquê, mas o quê eu era para as pessoas. E assim fiz uma promessa de que a cada xingamento, julgamento, fofoca, desrespeito e mal trato, eu me transformaria fisicamente, materializando as características implícitas nas falas das pessoas. Seria a materialização de uma ordem social. O nascimento de algo bizarro, que mostrasse pra todo mundo o poder de suas falas e julgamentos.

Foi assim que, paulatinamente, foram nascendo em mim penugens, depois penas. A pele dos meus pés foi se modificando, se tornando áspera e amarelada. Meu cabelo foi caindo, cedendo lugar para uma pequena crista vermelha, que foi crescendo e se avolumando. E minha boca foi, aos poucos, se transformando em um bico pontudo e duro.

Hoje sou uma galinha. Uma galinha digna e feliz. Com algumas dificuldades para me expressar, pois não é muito fácil escrever com as asas. Mas digna e feliz porque não aceitei ser transformada em algo de maneira silenciada. Se o efeito do social sobre nós é inevitável, o silêncio é opcional.

E foi assim que as pessoas passaram a conviver com titicas, cacarejos, ovos e bicadas, arcando com as conseqüências daquilo que produziram.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

MP3


_Vou começar, tá?

_ Não consigo te ouvir...

Não existe pecado do lado de baixo do equador
Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor...

Desde sempre foi assim: quando o Chico falava, ela não ouvia mais nada. Mas naquele dia, ela se sentiu obrigada a pelo menos informá-lo de que não ouvia. Porque ser a dona da música, num momento como aquele, era muito lisonjeiro.
O que será que se passava na cabeça dele, vendo ela ali, deitada, puro deleite, pura luxúria, recebendo massagem, carícias, player no ouvido, com as músicas que ele escolheu pra ela, praquele momento? 
Em que filme ela estava, ouvindo as músicas que ele escolheu pra ela? Por onde passavam suas mãos imóveis na cama, dentro daquele espaço, entre ela e a música? Por que as musicas não dizem para o outro o que a gente sente? Por que elas dizem?

Balangandans do pensamento...

O paraíso era no fundo daquela piscina que era a cama. E debaixo d´agua, em seu pensamento, ela podia não ouvir, mas de vez em quando soltava um ai.

domingo, 3 de abril de 2011

Porque mudar é revirar o passado...

"Eu hj joguei tanta coisa fora, eu vi o meu passado, passar por mim..." Já cantou Herbert Viana.

Se mudar é escolher o que é prioridade, selecionar o que será permanente e o que vai embora, o que é importante e o que é descartável. Quanto desse passado cabe na minha nova vida? No meu novo (e pequeno) guarda roupa?

É preciso pouca bagagem se se quer ir longe, já disse Adélia Prado.

Eu quero ir longe, ficando perto.

Ainda bem que o coração não tem metro quadrado.