sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tinha que ser eu?

Sou requisitada a dizer para as pessoas o que elas devem fazer quando as crianças se beijam na boca.

“O que fazer quando uma menina beija outra menina?” – eu ocupo posição privilegiada para responder isso.

Eu, justo eu!

Por que essa tarefa injusta, que me faz engolir um sapo atrás do outro, quando tenho que ser simpática e cuidadosa para dizer o óbvio?

É um esforço fenomenal não poder gritar aos quatro cantos o quanto o mundo é preconceituoso e careta e hipócrita e limitado e ignorante e não sabe o que é bom.

O que é bom é poder aceitar os convites que te parecem interessantes, é poder experimentar o que se deseja, é poder escolher viver plenamente o curso da própria vida sem se preocupar em ter que explicar o que você é o tempo todo.

O bom é poder estar, sem se prender nas exigências do é. O que você é? O que isso significa?
Significa que estou feliz. Ponto.

“E a menina que beijou a outra na escola? Já expliquei que meninas beijam rapazes... e o que mais devo fazer?”

E se simplesmente disséssemos para ela que a organização da escola, no momento, não tolera beijos na boca e que podemos combinar de que não nos beijaremos na escola? E se a gente pensar que ela pode estar apenas explorando a sua sexualidade sem muito planejamento, apenas interagindo com a pessoa mais próxima e confiável, que no momento era a melhor amiga? E se, de fato, considerarmos que esta criança está começando a exercer sua preferência/condição em termos de sexualidade e está mesmo beijando a colega que ela está afim, o quê qualquer intervenção/preocupação heteronormativa de nossa parte fará de bom a essa criança, se não contribuir para que ela se sinta inadequada?

E tudo isso eu precisei dizer, com calma e tranquilidade.


Tinha que ser eu.

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