quinta-feira, 7 de julho de 2011

Incursões pelo programa DST-Aids...

Acabo de chegar da realização de um exame para detecção de HIV. Sabe aquele programa “Fique sabendo” do governo federal? Pois é, estive lá... eu e minhas pesquisas não financiadas. Poderia fazer meu exame naquele laboratório chique, usando meu plano de saúde, como boa filha de classe média que sou. Mas quis ir lá pra ficar sabendo não só se tenho HIV, mas como é o atendimento do “Fique sabendo”, Uberaba.

Depois de duas visitas à instituição, pra acertar o tal horário de coleta, na terceira vez sou recebida por uma funcionária “bem-humoradíssima”, que me gesticulou algo com pressa, o que entendi significava: “senta ali e espera”. Então, me sentei ali na sala de espera de consulta. Sala velha, escura, com cara de suja. Fui me sentindo mal... Lugar pouco confortável, com aparência ruim, não inspira confiança. Vontade desistir... “se demorar muito, desisto”, pensei.

Mas, não. Foi rápido. Logo chamaram quem estava ali para fazer exame e mandaram subir. E lá em cima, alívio! A sala do “Fique sabendo” é toda branca, móveis novos, parece limpa e os funcionários são sorridentes. Bem mais confortável o programa “Fique sabendo” do que o “Dos que já sabem”. E aí, fiquei pensando que, quando vc recebe um resultado positivo no “Fique sabendo” vc tem duas notícias ruins ao mesmo tempo: de que está com o vírus e de que, de ali em diante, será atendido no andar de baixo, aquele escuro.

Aí, vou logo chegando e já faço uma ficha. Da ficha, vou direto pra tal coleta. Mas antes, uma rápida entrevista. “Só pra saber alguns dados, perguntamos isso pra todo mundo” a moça, muito simpática, me disse.

A primeira pergunta foi retórica: “Você faz sexo só com homens, né?”.
“Putz, acho que tenho cara de hetero”, pensei. Que pena! E a vontade de responder: “sim, por enquanto só com seres humanos, com animais acho anti-higiênico”. Esse foi o primeiro constrangimento. Que tipo de pergunta é essa? Interessa com quem eu faço sexo ou se uso ou não camisinha?

Vamos a próxima: “Você usa drogas?”
hahahahaha!!! Como a saúde pública é inocente né? E por acaso alguém vai responder que sim??! Mas tudo bem, essa foi boa pra descontrair.

Aí vem a terceira: “seu caso é camisinha ou rompimento de camisinha?”
Ou seja, a pergunta não tem a opção “não uso camisinha”. É mole? Um programa de DST que não abre espaço para a conversa, mais do que realista e necessária, sobre se as pessoas usam ou não camisinha. E toma como certo que todos usam camisinha e no máximo, a camisinha estourou. Eita, programa de sucesso, hein?!

O fato é que volto pra casa chocada com o moralismo da saúde pública. Quem foi que elaborou aquelas perguntas, o Papa? “Olha minha filha, se vc usa drogas, vá naquela capela, reze três ave marias, três pai nossos, depois volte para a colher o sangue. E não ouse responder não à minha pergunta retórica sobre seus parceiros sexuais”. (E o pior é que eu sei que o plural na pergunta retórica já foi um ganho!).

Pensar sobre Aids me mobiliza muito. Porque ela envolve três dos maiores tabus da nossa sociedade nada laica: sexo, droga e amor. Não sou afeita àquelas teorias da conspiração, mas me parece muito plausível que a Aids tenha sido inventada pelo Vaticano. Porque o seu poder de punição ao que é moralmente condenável é fortíssimo. Deus disse para não nos drogarmos e não fazermos sexo pelo sexo. E quem faz isso, corre sérios riscos. Ainda mais se seguir mais um mandamento do Papa, o de se opor à camisinha, que é contra o amor verdadeiro e a procriação. Porque o amor verdadeiro, aquele que nos completa e nos consome, não precisa de camisinha, não é mesmo?

Bom, agora é esperar 15 dias pelo resultado do exame. Até lá eu rezo para Deus me perdoar pela camisinha que rompeu e pelo sexo com animais.

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